sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

São Paulo


Foram 6 ou 7 horas de viagem, não sei mais dizer, mas devo ter dormido ao menos 4... Sem sonhar.



Uma imensidão de cidade
Verdes em copas de árvores
Ruas se lançam sem fim
No laranja do final das tardes
Na concretude cinza da verdade
Da multidão que se move
Com mais rostos do que pude contar

Viver aqui? poderia
Mas fico feliz onde nasci
Minha cidade tem mais verde
Ou mais verdes que quero bem
A felicidade carrego comigo
Mas ajuda se vier também...



quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Leopoldina, Carangola e Juvenal II


Carangola

Ruas inclinadas
Percorridas com alegria
Dias e noite passados
Sonhos de delicadeza
Subo a ladeira pra casa
Desço sonhando aventura
Visito as amigas levadas
Corro ao colégio
De vida agitada
Ultrapasso a Copasa
Muitas vezes a cada tarde
Todas ensolaradas

Na madrugada
De leveza infinita
Sonhos de doçura
Em que com carinho contava
Carneirinhos de algodão
Planejando aventuras futuras
Menina toda coração
Nessa nova fase da vida
Desabrochava botão
Pra menina virar moça
Pra perder e achar meu chão

Comecei na Carangola
Esse capítulo lindo
Na melhor companhia que se pode ter
Ganhando uma companheira irmã

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Leopoldina, Carangola e Juvenal I


Leopoldina

Leopoldina
Dos sonhos vagos
Memórias esparsas
Álbuns misturados
De menina sorridente
Boiando leve no azul
Da piscina transparente
Dos braços finos
Dos novos dentes
Escuto sinos
Infância inocente
Tenra e terna
Como há de ser
 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Um dia bonito, ideias sem nexo, e complexo insistente


Passos apressados em direção ao ponto, onde me esperam companheiros desconhecidos, com a mesma vontade de chegar em casa que eu já alimentava há algumas horas. Desci a rua enquanto mirava de rabo de olho as vitrines coloridas, desse jeito de olhar sem ver. Atravessei insegura, como de costume, esperando que algum maluco furasse o sinal e intrometesse no caminho um novo ponto, e ainda não quero ponto final. Foi um dia longo, pensei, e instantaneamente me corrigi, o dia ainda não tinha acabado. Estava com fome, os cabelos presos em um rabo sem jeito, me imaginei ali correndo sem saber as horas, e por um minuto a ideia de que estava feia me atormentou. Continuei, a opinião dos fantasmas da multidão que marchava comigo não fazia diferença. Atravessei a praça, seria assaltada? Otimista me respondi que não, felizmente estava certa. Olhei o céu se pintando de laranja enquanto o azul turquesa se despedia, como a minha cidade era bonita. Mas eu não. Que coisa, de onde vinha essa ideia insistente e chata ...eu não sei....

Passei ao lado dos muros do mercado e o cheiro desagradável me incomodou. Corri, mas o ônibus nem havia chegado. No ponto, as palavras do desconhecido que oferecera conselhos de manhã ressoaram, e não guardei o telefone do lado do cartão, que segundo ele não era bom por algum motivo magnético que ignorei. Falando em magnético ainda não entendi o texto que dizia repetidas vezes que o sonambulismo magnético também era causa de incapacidade temporária, e hipnotismo não me convenceu. Tentei me distrair com essas ideias, mas a fome não dava trégua e o ônibus demorou. Quando enfim chegou entramos aos montes, sem lugar para sentar, nem ao menos para segurar com as duas mãos, vim me equilibrando no balaio. Olhei para os lados, ninguém que conheço, ok. A cabeça começava a querer doer, era a fome revoltada, quase em casa alguém se levantou e eu sentei.

Desci pouco tempo depois, tive tempo de ver os últimos raios de Sol se esconderem atrás da pálida montanha que me acompanha a cada manhã. Que paisagem linda...eu precisava comer. Em casa sentei na sala e comi nem sei mais o que, na verdade tudo que achei em cima da mesa foi bem vindo. Depois um banho de alívio, lavando os cabelos cortados e vestindo uma roupa fresquinha, de quase férias. Sentei e trabalhei um pouco e depois vim aqui, escrever...que mesmo agora que os cabelos secaram sozinhos e soltos, o espelho parece não me querer, afinal de contas, o que há de errado comigo? 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Solidão

Despertei
Ainda na inércia com que me deitei
Lavei o rosto sem mirar o espelho
Me vesti sem pensar
E atravessei o corredor
Alcançando a porta dos fundos
Na escapada atrasada do amanhecer

Não estou sozinha
Eu sei
Mas ninguém informou a solidão
Ela não sabe ou não liga
E me acompanha nos dias
Longos desse fim de ano
De início de verão

Vago sozinha
Sorrindo um sorriso sem graça
Na multidão calada
Que encara sem dó
O vazio dos olhos cansados
De quem ama e nega
De quem ama e se engana
De quem pede cama
E encara o chão

Sozinha penso comigo
Nas bobagens que vão doer
Sozinha piso em ovos
Como quem os quer perder
Correndo descalça
Sinto as cascas finas
Quebrando sem se romper

Deixe que eu parta em paz
Solidão insistente
Que partindo me multiplico
E paro de sofrer

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Livres

Nós
Surgem
Apertam
Unem
Sufocam

Nós
Juntos
Separados
Amigos
Sozinhos
Cansados

Um nó na garganta
Um nó perdido
Um nó(s) se desmancha
Enfim partido

E a liberdade abre asas
Sem nós que as impeçam
E nos unimos contentes
No voo rasante

Que o milagre do instante
Na imagem eternizado
Nos faça sorridentes
Em memórias de amantes 

Livres para sempre


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Printemps


De levinho
O som cresceu
Invadiu cada fio
Os fez dançar
Arrepiando um por um
Em calafrios de alegria
Em um forte suspirar

A primavera de Vivaldi
Anunciando uma entrada
De nova fase, aventuras
De paz, amor, felicidade
Mas ainda assim...
Que fase de saudade
Tantas saudades suas

A primavera forte

E mesmo assim tão suave
Em claves de Sol e Fá
Com flores e beijos
Cartas e desejos
E semi-colcheias perdidas
Na mais pura harmonia
De gênio da emoção

Ah Vivaldi !
Como pode traduzir 
Aquilo que dita o coração
Teimoso e bobo
E que insisto em ignorar?
Como ousa me mostrar a verdade?
Sem a menor piedade?
Para parti-lo sem compaixão?

Aumento o som...



terça-feira, 13 de novembro de 2012

Doce saudade


Meu coração suspirou
Os olhos marejaram
O sorriso se abriu
Uma palavra escapou
De levinho, soprada
Nem som escapuliu
Apenas um vento fino
De alívio sutil

É que eu senti saudades
Na verdade, ainda sinto
E pode crer
Eu não minto
Sobre o carinho imenso
Que lhe dedico
Nessas poucas linhas
Que vem do fundo sincero
De uma alma sem paredes

E o sorriso bobo
Anseia contente
Em virar risada
Em te ver sorridente
E a saudade espantar
Dessa aura tão doce
Poder gargalhar
Com você, mesmo hoje 



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Singela prece


Meu anjo querido
Que sempre me amou
No caminho sofrido
No caminho que sou

Rezo a ti por proteção
Que nunca me faltou
Rezo do fundo do coração
Rezo por quem foi e quem ficou

Anjo amado
Estende de novo suas asas
(Macias como nuvens)
E cubra meu rosto
Enxuga minhas lágrimas
Faça o dia ensolarado
Deixe-me pedir de novo
Como peço desde que posso
E como pediram antes por mim

Anjo do Todo Poderoso
É a ti que recorro
Sem nunca duvidar
Da sua bênção
Do teu amor
Do nosso amar

Guarde minhas preces
Com cuidado
Saiba que confio a ti
Quem por mim é amado
E lembre-se da tua função
De protetor alado
Leve embora a desilusão
E volte para o meu lado



domingo, 4 de novembro de 2012

Afogando


Existem coisas imperdoáveis?
Existem corações empedernidos?
O meu?
Mais apanha do que bate
Mas nunca deixou de bater

Há um detalhe importante
Como detalhes costumam ser
Entre a mágoa e o perdão
Se perdoamos quem não se arrepende
Não cessam as dores e mágoas
Nem contenho as lágrimas
Da mais pura decepção

Se ainda amo?
Amo com tanta força
Que choro de raiva
De ser tão boa moça
De tão frágil coração

Se esse amor é escolha?
Não sei, não creio
Não é coisa imposta
Mas não mais o anseio

Se ainda gosto?
Nunca gostei de apanhar
E para não ser covardia 
Nem tento revidar

É quase um canto
Em voz de sereia
Canta, chama e promete
Sonhos de delicadeza
E sei que se chego perto
A morte é certa
Por afogamento

Afogada em mágoas
Perdoo
Porque amar é assim
E esse coração mole
Apanha e sorri


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Lágrimas de novembro


Ela escorreu
Sem pedir licença
Não direi que doeu
Foi com displicência 

Desceu queimando
O amargo salgado
De saber que amando
Nem sempre se é amado

Foi só uma 
Que escapuliu
Uma última vez
Que me feriu

De repente interrompo
O princípio de soluço
A lágrima desmonto
Dou na tristeza um susto

De saber que tudo isso
Pode ser comemorado
Esboço um sorriso
De coração quebrado

Não diziam os velhos sábios
Que amor não se cobra
Saíram dos meus lábios
Palavras de memórias

Tudo valeria a pena
Tudo iria bem
De lembrar da velha cena
Quando me amava também

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Hoje não


Que preguiça, hoje não vai dar, aliás... nem hoje ... nem nunca mais. Eu cansei sabe? todo mundo cansa, é normal. Me disseram que era normal. Então, decidi que hoje não, hoje seria diferente. Hoje eu fiz tanta coisa, mas tanta coisa, que descansei. Ocupei essa cabecinha distraída e sonhadora com milhões de pequenas tarefas, desafios, vencidos ali mesmo, com uma única regra: pensar em uma tarefa de cada vez, aliás... duas regras: também não podia pensar naqueles assuntos proibidos (existe uma lista). Só lembrei dos tais assuntos agora, no fim do dia, e me senti tão realizada com cada pequena tarefa entregue, que eles nem me incomodaram tanto essa noite! Foi ótimo !!!!

nova meta: 1 tarefa de cada vez

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A-gente

Dedico essa pequena reflexão, se é que se pode ou deve fazê-lo, ao Thiago, agente sonhador


Aquela gente que marcha calada, subindo e descendo o queixo, só pra concordar. 

A gente que vive fantasma, que segue o rumo sem questionar.

A gente que não é agente do próprio sonhar.

Gente medrosa, careta e covarde, que já vai tarde, sem tempo de amar.

Gente uniforme, sem graça, interesse, gente que esquece o cuidar.

Serei agente que segura o timão e vira o barco sem tombar.

Serei agente com sangue nas veias e coração a pulsar.

Escolho o caminho da tempestade, fugindo da gente covarde que só sabe falar.

Não tenha medo, e se me ama mesmo, pode me acompanhar ...


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Distância - 6km - No meio do caminho...melancolia


"O melancólico não é louco" - conclusão curiosa estudada ontem, enquanto analisávamos o Direito Antigo Português (nunca vou me lembrar do nome do autor).

O melancólico, segundo o autor português, não está entre os loucos de todo gênero, não precisa de curador ou tutor, pode dispor de seus bens como bem entender. O reservado, o sensível, de olhos tristes e voz doce, não mereceu ali, no Direito, proteção contra si mesmo. Direito injusto? Talvez.

Ou talvez proteja o melancólico de algo muito mais perigoso que sua própria melancolia, afastando dele a piedade alheia, por vezes muito mais dolorosa que a própria tristeza.

Deixe que ele escolha seu caminho, gaste como desejar, derrame as lágrimas que julgar necessárias, e, com sorte, lindas palavras, que caem ao acaso diante dos olhos de outros melancólicos, para salvá-los.

Se tenho medo da melancolia? Não sei. Costumo abraçá-la com carinho, aninhá-la no colo e murmurar palavrinhas de afeto. Porém, tenho medo de que cresça demais, apague meus sonhos, cubra meus olhos de sombra e nunca me abandone. Tenho medo de que ela me defina. Mesmo assim, a aperto entre os meus braços enquanto marcho, determinada a tropeçar em alguém que veja nela beleza sem ter dó.

Venha, meu bem, há espaço para você também. Deixe que segure a sua mão, passe meus dedos pelos seus cabelos, sussurre uma palavrinha de amor, que o ponha no colo, que o cubra de beijos, que divida com você a minha melancolia, que cuide um pouco da sua.

Não, meu bem, nós não somos loucos. Nem seremos melancólicos, apesar da nossa melancolia. Não teremos curadores e tutores, apenas um ao outro, se assim desejar.... 




Distância - 6km

Que distância pobre essa
Que a importância esqueceu
Enquanto via fotografias
Antigas, de quem se perdeu

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Distância - 5km

Que distância pobre essa
Que a importância esqueceu
Corri descalça no chão frio
Buscando braços, abraço teu



Olhos de caleidoscópio
Girando formas e cores
Escuto no estetoscópio
Batidas de dor e amores

Tenho intenções diversas
De alguns versos alheios
De desbravar outras terras
Sonhos e tiros certeiros

Giram cristais e miçangas
No delírio colorido
Escuto choros e sambas
Som fino e dolorido

domingo, 14 de outubro de 2012

Distância - 4km


Que distância pobre essa
Que a importância esqueceu
Cheguei tão mais depressa
Do que o tempo que calculei




Nunca achei que o caminho seria percorrido assim, em tão curto período
Nunca levei muito a sério minhas próprias preocupações
Nunca imaginei que me entristeceria tanto quando chegasse ao final
Nunca cheguei a admitir que não poderia controlar meu próprio coração
Nunca pensei que seria tão rápido
Nunca sonhei com tão triste fim
Nunca desejei mal assim a ninguém
Nunca esperei nada além
Nunca o esquecimento 
Nunca mais 
Nunca
Mas ...



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Distância - 3km


Que distância pobre essa
Que a importância esqueceu
E não impediu remessa
A volta do que é teu



Volta, alegria dos meus dias
Sorriso dos meus lábios
Correndo de braços abertos
Para o abraço apertado

Sinto tanta saudade
Das nossas tardes de verão
Tranquilas e ensolaradas
Faziam bem ao coração

Sinto sua falta todos os dias
Até mesmo nos mais nublados
Sinto falta das gargalhadas
Beijos e cabelos molhados

Vejo em retratos, fotografias
Nossos rostinhos quase apagados
Os olhos brilhando de felicidade
Meninos sapecas, levados

Levado cedo demais...
Mas não se preocupe
Que a distância é pobre
E a importância esqueceu

Então nossos dias 
Serão eternos
Nos meus sonhos 
No breu

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Distância - 2km


Que distância pobre essa
Que a importância esqueceu
Nem levei malas pesadas
Fui leve, tão somente eu


100 textos no blog, sem dores no peito. Minto, por mais que as expulse ou ignore, é preciso que existam, pois o claro só o é porque existe o escuro, e a alegria em minha vida se torna ainda mais brilhante, se sei que dores se ofuscam. E conto com amigos tão especiais, que a luz dos nossos olhos é capaz de afugentar aquilo e aqueles que não nos querem bem. Amigos, verdadeira alegria dos meus dias.

sábado, 6 de outubro de 2012

Distância - 1km


Que distância pobre essa
Que a importância esqueceu
Não há no mundo promessa
Que supere o que sofreu



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dia ensolarado


Caminhei sorrindo rua acima, enquanto o Sol brilhava no céu e esquentava os meus cabelos, as pontas descoloridas balançavam atrás da minha mochila, acho que vou cortá-las. Passei direto pelo ponto de ônibus porque estava distraída, tive que voltar um quarteirão e subi na 'mercedes azul com motorista' dando bom dia, ainda que já fosse tarde. Desci na praça da savassi, como há muito não fazia, e andei pelas novas ruas fechadas, aproveitando o dia. Fui fazer uma visita, aproveitei para lanchar, experimentei um sapato em uma das lojinhas e a vida parecia voltar a caminhar. Como se um peso enorme tivesse sido jogado dos meus ombros no chão, e ficado naquela sessão, de alívio. Foi tão difícil guardar tudo aquilo, se eu soubesse que tudo ficaria mais fácil depois que colocasse algumas dores no ar, soltando as palavras que me ferviam a alma, se eu soubesse, ainda assim teria sido difícil dizer. As palavras saíram, e não foi como eu imaginei, contive as lágrimas, mantive a calma, fui falando, pausadamente, e as coisas pareceram fazer mais sentido. De repente meus problemas não eram tão irrelevantes, idiotas e bobos, também não eram impossíveis, insuperáveis, trágicos, dignos de pena, eram apenas problemas normais, desses que passam, sabe? Aí saí sorrindo, curtindo o Sol e a tarde, sem chorar.

sábado, 29 de setembro de 2012

Arteira, faceira e sapeca


Um suspiro mais forte que invade o silêncio tranquilo da minha leitura. O olhar perdido em pensamentos que viaja logo após o segundo longo barulho, de um suspiro um pouco mais profundo. O pobre livro que me olha pelas orelhas bem tratadas, verificando que já não estou mais ali. Pulei das linhas amigas para pequenas lembranças/sonhos. Sorri.

Cada pequeno fio loirinho se levantou para espiar o que os olhos brilhantes desejavam v(t)er. Um friozinho gostoso percorreu a coluna judiada pelos anos de ginástica. O calor corou as bochechas sem que percebesse. E o sorriso agora virava risada arteira, de menina sapeca.

Fechei os olhos de levinho imaginando o que queria ali, e o livro escorregou das mãos bobas que já não pretendiam segurá-lo. Os lábios entreabertos agora sorriam para o alguém do delírio. Ri sem graça, pensando em palavrinhas sussurradas ao pé do ouvido. As mãos agora passavam suaves pela pele, tentando acalmar os fios mais curiosos que insistiam em se arrepiar.

Brotavam gotinhas de saliva acumuladas em rios de desejo. E os olhos bem fechados escondiam pupilas agitadas e sem rumo. Tão pequena, como me cabe tanto desejo? Pensava comigo sonhando seus beijos. Recuperei na memória a sensação maravilhosa de lábios quentes contra os meus, estremeci. E o frio lá fora parecia alívio para aquilo que queimava em mim.

Vontade que invade sem pedir permissão ou licença, sem saber da hora, do dia ou do ano, sabendo apenas do momento. Vontade com gosto, com cheiro, endereço e nome certo. Vontade faceira.  



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

"Vai ser sempre assim?"


A aula acabou mais cedo, e saímos da sala conversando, ali no corredor em frente aos escaninhos. Fui caminhando com os meninos, determinada a descer de elevador, hoje não me arrisquei a ir pela escada. Enquanto olhava a porta entreaberta da sala em frente, onde amigos faziam algum tipo de trabalho, escutei o Luciano dizer baixinho "Vai ser sempre assim?". 

Me virei em um impulso de perguntar "assim como?" e ao mesmo tempo respondendo a minha própria pergunta com um intenso "assim", que englobava tudo e todos nesse tempo e espaço. Em pouco tempo percebi, assim como o Thiago, que também se perguntava a que se referia o Luciano, que a pergunta nada mais questionava do que a metodologia de aula, com trabalhos em grupo.

Mas isso não bastava, agora que ela havia sido perguntada, ali no aberto espaço do corredor cercado de escaninhos, e eu repetia os termos na exata ordem que os havia escutado: "vai ser sempre assim?". Aquilo se tornou de tal profundidade no momento, que cheguei a pensar na hipótese desesperadora do assim que poderia se perpetuar, o meu "assim" extremamente desorganizado, corrido, afobado, lotado, confuso, um "assim" de angústia quase existencial.

Agora já viajava em Sartre e na responsabilidade humana sobre suas ações e destinos, e assim, meu "assim" não seria sempre...assim. Bastava que mudasse o status quo e redefinisse os rumos do trem. E a aula recém acabada retomava suas linhas de quadro branco (acho que ainda sinto falta do giz, ou não? não sei): o ser humano não pode ser totalmente conhecido e definido, ele é capaz de mudar, se redefinir, mas nunca de se conhecer ou conhecer o outro em sua mais completa complexidade.

"Vai ser sempre assim?" - Se infinitas possibilidades se estendem diante do painel futuro, não seria sempre assim, mas se as possibilidades são tantas, incluiria a constância, e aí sim, talvez seja sempre assim... Seremos sempre amigos? Seremos serenos, amenos, angustiados? Seremos assim como somos no quadro hoje pintado? Serei arteira e terrível a vida inteira?

Será que vai sempre doer o que me dói hoje? Será que tudo que doeu ainda dói, e o que não dói mais na verdade nunca realmente doeu? Será que os minutos vão seguir passando nessa marcha quase insuportável da minha espera por algo mais? Será que sempre vou sentir que deveria estar fazendo alguma coisa que não sei bem o que é? Será que serei sempre essa boba que se entrega de braços abertos e coração na mão, enrolado num laço de presente? Será que vai ser sempre tão difícil dizer "eu te amo"? Será que serei sempre assim carente?

Será que viveremos sempre correndo atrás de uma borboleta impossível de alcançar? Será que a cada degrau que subirmos vamos mirar outros tantos? Em uma escadaria infinita de ambição? Ou será que vamos sempre querer outros lances de escada simplesmente por não ser o fim da jornada? Vai ser sempre assim tão difícil dizer o que sinto? Vai ser sempre assim tão difícil viver? Vai ser sempre assim a saudade?

Vai ser sempre assim tão gostoso passar minhas tardes entre pessoas queridas? Vai ser sempre assim a alegria de escutar alguém tocar? Vai ser sempre assim o doce menino de tomar sorvete no domingo? Vai ser sempre assim sorrir ao te ver gargalhar? Vai ser sempre assim a vontade de te ver? Vai ser sempre assim sonhar com você? Vai ser sempre assim acordar depois de sonhar?

Vai ser sempre assim?




segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Escadaria


Senti uma pontada
O ar faltar
Subo a escada
Tento respirar

Desmonto na cadeira
Pálida e suando
A dor é certeira
Penso bufando

"Ainda tão nova"
Vão todos dizer
"Deus sabe a hora"
"É preciso entender"

Olho nervosa
O subir e descer
Visão embaçada
A escurecer

Desmaiei assustada
Chamando você
Acordei descansada
E sem saber

Se na hora do medo
Te amei sem querer

sábado, 22 de setembro de 2012

Sexta feira


Corre corre ponteirinho
Corre rápido na sexta a noite
Mas só até a aula acabar
Calma calma agora chega
Pode ir com lentidão
Já saí, já posso ir
Descansar o coração




quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mais (-) Valia


Mais valia um sorriso

De menino na escola
Mais valia a saúde
De quem espera na fila
Mais valia estar viva
Do que uma vida mal vivida
Mais valia a educação
Do que campanhas de eleição
Mais valia a alegria
Do que a quase escravidão
Mais valia ser feliz
Do que ser gente importante
Mais valia viver bem
Que a perseguição constante
De sonhos de pura ambição
Mais valiam os meus dias
Que nunca voltarão
Mais valia simples tarde
Sem gritos do patrão
Mais valia tudo isso
Que a mais-valia exploração



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Primeiro dia


Dormi cedo, para acordar bem disposta, coloquei na mochila, ainda na noite anterior, a lapiseira azul, no estojo roxo, junto com o resto do material (além da lapiseira e da borracha, só uso mesmo a caneta bic azul... mas levo o resto por precaução), acrescentei os cadernos novos, com folhas do jeito que gosto, limpas, brancas, linhas finas sem desenhos. Adoro volta às aulas, os planos são tão bons, cheios de esperança e responsabilidade, tantas oportunidades! E semestre passado foi tão proveitoso que só espero muita diversão! 

Comecei bem, até estudei no fim da tarde, e depois bati uma pratada de macarrão... que o estudo fique firme e o regime volte rápido, antes que seja em vão...

Beijinhos!

sábado, 15 de setembro de 2012

A caminhada

Se vivo pensando
Em quem veio e se foi
Onde ficam os vivos
E o viver minha vida?

Se a morte me acompanha
Sem deixar que a ignore
Vejo mais derrotas que vitórias?

Se o olhar se fixa
No fim da última curva
Quem me guia
No resto do caminho?

Há de haver vida
Nos olhos de menina
Na longa jornada que trilha
E não há de trilhar sozinha

Caminham juntos amigos
Companheiros unidos
Por uma caminhada 
Inesquecível


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Coragem


Onde você está? Justo agora que preciso que fique ao meu lado... como pode ficar aí do outro lado desse rio, rindo de quem precisa de você? Não, me sugerir soluções distantes e que não te exigem nada... não me satisfaz. Também não adianta dizer que já vem e demorar uma eternidade... sou tão pouco importante, se é que se pode sê-lo, assim? E pensar que pensei que nunca iria me abandonar... Aliás, todos me diziam e garantiam isso. 

Volte logo aqui ! Acreditei naquela promessa ! Lembre-se de que carrego no nome a crença na verdade, e acredito com facilidade na sinceridade que às vezes me engana... Como me dói cada vez que olho o horizonte e me lembro de que em algum momento contei com você ! E quando dizia que podia contar comigo, eu nunca menti ! Pegue um par de remos agora mesmo ! Volte rápido !!! e não use a correnteza como desculpa para não vir, é exatamente porque ela está me arrastando que preciso da sua mão no meu ombro.

Coragem que tantos repetem incessantemente que tenho, não me abandone nesse momento...


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Anjo da guarda


Amorzinho, vou-me indo
Que amanhã é quase hoje
Vou dormir devagarinho
Sonhos bons como os que ouve
Vou dormir com os anjinhos
Que me protegem essa noite
Vou dormir com carneirinhos
Sem contá-los
Sem afoite



domingo, 9 de setembro de 2012

De preto e branco


Seguiu caminho
Era o único jeito
Flor com espinho
Sufocou o desejo

Seguiu sozinho
Sua dor no peito
Sem amor no carinho
Pensando no beijo

Tatuou sob da pele
De preto e branco
O que não esquece
O que não virou pranto

Foi caminhando
Com passos leves
Continuando
A lista de "deves"

Deve falar
Deve esquecer
Deve amar
Saber viver

Devo sorrir
Devo chorar
Saber mentir
Não me apaixonar

Devo omitir
Devo gritar
Devo dormir
Devo acordar

Mas nunca pensando
No que penso sempre
Nunca sonhando
O que se foi de repente

Pensar na dor
A faz melhorar?
Ou o sofredor
Só nela pode pensar?



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Adeus


Eu vou embora, levando pouca bagagem. Vou embora levando minha mochila de escola, com um pijama, uma escova de dente e um filtro solar. Eu vou embora e vou tentar não olhar para trás. Vou embora sem enxugar as lágrimas que escorrem. Eu vou embora porque preciso me salvar. Vou embora porque não sei me proteger. Eu vou embora antes que seja tarde demais. Vou embora porque já me despedacei. Eu vou mudar de rota o mais rápido possível, vou escolher outro caminho, pois esse destino... não me agrada. Vou embora porque dói ser esquecida, dói ser vírgula na vida de quem na minha... fora capítulos inteiros de um romance sem final. Eu vou embora porque não quero assumir que esse fim seja um fim ainda maior, o quero apenas como início do recomeço. Vou embora, vou porque eu mereço. Mereço ser feliz. Eu vou correndo, tropeçando, rindo de tristeza, vou antes que troque meu nome de novo, vou antes que se esqueça de avisar que não vem, vou antes que adormeça sem me dar boa noite, vou antes que amanheça sem me beijar. Eu vou embora antes que perca as boas memórias. Vou embora antes de matar nossa história. Vou embora porque o amor não cabe mais em mim, e por isso deve partir. Adeus.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Quadro


Compulsivamente encaro o quadro
Procuro onde foi que deu errado
Tento me limitar à moldura
Tento, mas a tarefa é dura

Procuro pinceladas em outra direção
Procuro, mas me cega o coração
Tudo que vivi foi ilusão?
Havia sentimento, emoção !?

Pintei apenas brancas margaridas
Nenhuma das dores sofridas
Pintei versos singelos de amor
Nunca o coração sofredor

Agora a tela não era ensolarada
Via ali o escuro, o nada
Um tapa áspero de realidade
Vi que era feia, na verdade


terça-feira, 4 de setembro de 2012


Tão só que não se escuta
Murmúrio, barulho algum
Tão só que não se vê
Sorrisos, nenhum

Sozinha na multidão
Risos todos em vão
Companhia da solidão
Apunhalado coração

Silêncio nesse vazio
Cheio de gente passando
Um olhar perdido
Lágrima queimando

É gente tentando entender
É gente querendo esquecer
Tem gente que manda crescer
Tem gente pagando pra ver

É silêncio e vazio nos dias
É escuro sem sono de noite
É alívio nas piscinas
E em pesadelos açoite

É dor que se esconde ligeira
Sem dizer de onde vem
Dor que volta certeira
Só de pensar em alguém

É estar sozinha com todos
Detestar minha própria companhia
É abraçar a causa dos loucos
E assim ser enfim esquecida

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Condição



Se um só fio
Se arrepiou
Se sentiu frio
Mas não congelou

Se sabia o caminho
Se desviou
Se queria carinho
Mas não achou

Se sentiu sozinho
Se perdoou
Se fez menino
Mas não chorou

Se tudo isso
Se acabou
Se fez sentido
O amor ficou

domingo, 2 de setembro de 2012

Cartas no jardim

* que nunca serão entregues*

Setembro é recomeço
Início e desapego
Matar algum desejo
Ter qualquer sossego

Setembro é uma brisa
Leve à nossa vida
Moça ou menina
Certeza de alegria

Setembro é mês amado
Amor tão mal tratado
Cresceu no jardim o mato
Por culpa do descaso

Setembro tão certeiro
Enviaste mensageiro
Errou o jardineiro
Cartas no canteiro

Carta de Setembro
Que nunca será entregue
Carta que bem me lembro
Trazia o sonho que persegue

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Feliz Aniversário !



Boa noite. Tudo bem? É, eu sabia que ficaria bem melhor aí, sim, a mamãe também sabe. Sentimos sua falta. A vovó está bem, sim, terei paciência com ela. Desculpe ter demorado tanto tempo para escrever, eu não sabia que podia. Claro, vou escrever sempre. Eu queria te agradecer, por sempre acreditar tanto em mim. Também tenho muito orgulho do senhor. Muito mesmo !

Hoje estou com tanta saudade! Fui obrigada a escrever. Hoje também é um dia muito especial. Talvez esteja enlouquecendo, talvez essa seja a solução para não enlouquecer. É que hoje, vovô, hoje estou tão confusa ! Sei que teria as melhores palavras, sempre teve. Sim, estou chorando. Não, haha, não machuquei e nem está esguichando sangue ! =) A gente podia jogar uma partida de "resta um" ! Sinto falta do "resta um". 

Já vou parar de chorar, estou só limpando os olhos... Olha Vô, preciso do senhor. Estou confusa e com medo, preciso dos seus conselhos sem recomendações. É Vô, preciso escutar que tudo vai dar certo, que eu vou conseguir, que vai passar, que você está comigo. Podemos comer passas e jogar damas enquanto conversamos. Tudo bem, não vamos falar nada na sua jogada.

Sabe o que é, Vô, é que é muita saudade, e não sei o que fazer. Hoje, por exemplo, hoje é dia de ir no "Província de salermo", como vou ficar sem aquele risoto? Sim, saudades de passar minhas tardes com você.  Sempre soube que era a preferida, pode deixar, não vou contar pra ninguém.

Ah, Vô ! Me desculpe !!!! Me desculpe por ter deixado tudo aquilo acontecer !!! Eu sei que você nunca quis nada daquilo ! Me perdoe por não ter feito mais ... a culpa é um pouco minha sim ... acho que tinha outro jeito. Sim, é passado, mas passado também dói. Tudo bem, não vou mais sofrer por isso, passou.

Posso jogar? Vale soprar? Soprei. Sim, a peça estava ali. Vô, aprendi a tocar "O carinhoso" pro senhor, sim, na clarineta. Vou tocar na próxima carta, pode ser? Então combinado.

Já está na hora de dormir? Não Vô ! Fica mais ! e o conselho? e o jogo? estou até ganhando ! e ainda tem passas ! Fica Vô, eu não sou moça não ! Sou menina ainda... claro que preciso dos seus abraços, das suas palavras e dos seus beijos demorados, beijos "de banheiro". Não vai vô, ainda não.

Estou confusa!  tenho medo ! doeu muito ! estou com saudades !
Fica, Vô, mais cinco minutinhos, fica que eu vou acordar a Sofia pra vir te ver !

Então volta logo... volta que te amo, e sempre vou te amar. 

Feliz aniversário Vovô!

Com carinho, da sua netinha, 

Guga


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sorvete


Às vezes preciso de sorvete. Preciso muito. Hoje, por exemplo, saí de casa determinada a tomar a maravilha gelada, precisava, não podia mais adiar. Corri atrás do ônibus rua abaixo com o pensamento fixo no sabor chocolate, subi me espremendo entre passageiros cansados que queriam voltar para casa, só para tomar meu sorvete. Fui até o colégio, onde passei tantos anos tão felizes, onde fiz amigos para toda a vida, amigos com quem posso contar. No caminho, saquei o telefone do bolso e fui logo avisando que ia chegar, sorvete sem companhia, e uma boa conversa jogada fora, perde todo o sabor. Cheguei, na verdade desci no ponto errado e andei um bocado, mas andar por ali me faz bem. Passei pela porta da escola e deu vontade de entrar, sentar na sala da banda, tocar uma música, vestir um collant e ir treinar, não podia mais, cresci. Tudo bem, era cedo e dia de sorvete, desci o resto da rua já vendo o amigo acenar. Entramos no shopping que vi ser construído das janelas das salas de aula... Passo número um: despejar no amigo o que guardado parecia veneno, e dito virou bobagem sem fim. Em frente ao fast-food a barriga roncou, lembrei que pulei o café da manhã e o almoço, que já eram 17:30h e que a possibilidade de um desmaio era real, pedi um hamburger e um refri gigante, se palavras venenosas foram expulsas, me entupi do veneno com gás, acredite, hoje era preciso. Terminada a minha "refeição", anunciei triunfante: "agora o sorvete". O amigo quase caiu para trás: "Jura que aguenta sorvete?", esse parece que não me conhece bem, tomei uma casquinha em razão da economia...de chocolate. Me senti tão melhor depois do lanchinho. Sim, sorvete, precisava mesmo de sorvete, e de um amigo, um ombro para chorar.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sinto muito


Eu sinto muito
Eu sinto tanto
Sentir tanto assim

Me perdoe 
Mas não evito
O famoso sentir

Eu sinto muito
Sentir tão errado
Amar e odiá-lo

Sinto profundo
Um amor sem futuro
Como água pelo ralo

Sinto, é verdade
Uma culpa sem motivo
Amor em pedrinhas de garimpo

Sinto e repito
Sem nós na garganta
Desejo em delírio

Eu sinto muito!
Que não sinta o mesmo
Que eu já senti sem medo

Eu sinto muito
E sinto tarde
Sem nenhuma vaidade

Eu sinto tanto
Sentir assim
Sem dó ou piedade

Sentindo o fim
Se aproximando
Sem volta, claridade

Um dia tudo virá
O sentido
A liberdade

Um dia de muita angústia
Um dia sem nós
Um dia de abraços

Um dia direi isso tudo
Com lágrimas rolando
E palavras ferindo

Um dia tudo o que sinto
E não te exijo
Será perdoado

Eu sinto muito
Eu sinto tanto
Que o amor tenha mudado

Eu sinto em mim
O que sentirá
Uma vez revelado

Eu sinto o fim
Se aproximando
Amar sem ser amado

Eu sinto muito, sentir tanto assim ...


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ele se foi

Cresceu muito e bem depressa, achei que estava muito bem! Mas me avisaram que como ficou tão grande... algumas mudanças precisavam ser feitas. Fiquei um pouco apreensiva, mudanças nem sempre têm o efeito esperado. O tempo passava e via sinais de que a mudança era mesmo necessária. Não tinha outro jeito, precisei arriscar.

Acompanhei e ajudei na mudança, com olhos atentos e mãos cuidadosas. Depois continuei vigiando, dia após dia cada pequena reação. Dois dias se passaram e achei mesmo que tudo ficaria bem, mas não foi bem assim. Por mais que a mudança tenha sido imposta por uma necessidade crescente, ele não se adaptou.

Cada vez que passava por ele, cada manhã que tentei animá-lo, matar a sede, mostrar a luz, cada vez via que definhava um pouquinho. Foi secando, ficando magrinho, e o verde desaparecia aos poucos, dando lugar a um amarelo quase marrom. Ver aquele fim foi se tornando parte do dia a dia, como havia sido com o começo. Mas dessa vez não foi divertido assistir o tempo passando...

Por fim, ainda que não me conformasse, minha mãe pegou a tesoura e cortou o que um dia foi meu querido pé de manjericão (esse aqui: para o meu manjericão). Sentei na bancada da cozinha como sempre fiz, encarei o vasinho vazio e me bateu uma saudade, uma tristeza, uma vontade de passado, uma nostalgia boba de criança.

Ele se foi, como tanta coisa se vai em nossas vidas. Parei por alguns segundos enquanto encarava o que restara abaixo do corte da tesoura, pensei em todos que por alguma razão se foram, pensei nos últimos anos, me bateu uma dor enorme. Senti um vazio se apertando lá no fundo, como se estivesse procurando o coração e só encontrasse um fundo oco. Não. Não podia ser assim.

Passei dias pensando na vida, preenchendo o tal vazio que acabava de descobrir, lembrei de tantos momentos bons, agradeci por ter tido oportunidade de conhecer tantas pessoas boas. Lembrei de todos eles com carinho, independente das circunstâncias em que partiram. Lembrei até mesmo de quem só partiu da Minha Vida, partindo por vezes o meu coração... Sim, também tinha sido privilégio conhecê-los. Nesse tempo, me distraí, esqueci de olhar para o vaso ao passar pela cozinha, trabalhando sozinha nas minhas memórias e conclusões.

Hoje, parei para beber água e vi um brotinho surgindo tímido no vaso antigo, me veio uma alegria imediata, um calor no peito, o coração que batia feliz. Sim, meu antigo manjericão se foi, mas outro estava nascendo. Sim, perdi algumas pessoas, mas outras tantas nasceram na minha vida, não sei o que faria sem tantas novas amizades ! Encontrei pessoas realmente especiais, sem as quais não consigo mais me imaginar.

É, mais uma vez aprendi com o meu manjericão valiosas lições. Encarei dores que havia escondido, chorei lágrimas que estavam encarceradas, lavei a alma, amanheci. Ele não será meramente substituído, essa não é a ideia, mas, às vezes, no caminho, o velho deve dar lugar ao novo. E, por vezes, que ainda não entendo, até o novo tem de partir.


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Declarando guerra da minha escrivaninha



Vejo três portas de armário
Duas estantes com livros
Um fim sem ser sumário
Páginas em abismos

Vi seus olhos tão de perto
Foi difícil não dizer nada
Mas fiz o que era certo
Sorri e fiquei calada

Sei tão bem o que quero
Sei querer o impossível
Sei e isso não nego 
Não sou tão insensível

Se obedeço o que manda
Obedeço a razão?
Coração que se zanga
Sangrei de emoção

Era sangue nas lágrimas
Presas de revolta
Voavam as páginas
Infinito sem volta

Tenho certeza que sou louca
Por isso declaro guerra
Minha vontade não é pouca
Grito do alto da serra:

"Matem todos, eu vos digo, todos que fingem amar"

domingo, 19 de agosto de 2012

Engenharia aplicada


Fácil demais
Fazer previsões depois que aconteceu
Fácil sonhar condições ideais
Que nunca existirão

Com a coragem que a distância dá
Em outro tempo em outro lugar
Tudo é tão fácil


Eu gostava da distância e do tempo (para que tudo fosse fácil!) Quero partir uma nova temporada, reorganizar a bagunça que chamo de vida. O problema é que na volta, nem sempre tudo se resolveu sozinho, tem coisas que esperam do jeitinho que deixei. Quanto a sonhar condições ideais... tenho sonhado tanto assim acordada, que às vezes dói ver que nada aconteceu como imaginei. E como essas condições realmente nunca existirão, preciso abrir mão de algumas coisas, afinal, não se pode ter tudo, não é?


Ela sabe muito bem o que quer
Ela sabe o que precisa fazer
e vai a luta
não escuta ninguém


Não sei se seria justo dizer que não escuto ninguém. Escuto com carinho amigas que querem o meu bem. Mas teimosa que sou, e com o lema de só me arrepender do que deixei de fazer, mesmo conselhos prudentes não me convencem a deixar de tentar. Sei tão bem o que quero, sei até o que fazer, luto com unhas e dentes, mesmo que possa perder. Sei que não posso ter tudo, mas ainda tento ter muito do que quero.


Que a chuva caia
Como uma luva
Um dilúvio
Um delírio
Que a chuva traga
Alívio imediato


Finalmente, entre as tempestades de ideias, ações, confusões, consequências... em meio a minha vida maluca e divertida, que tem tantas alegrias, mas que não escapa de algumas dores... entre amizades e amores, dias e noites, idas e vindas, a chuva me consola e alivia. A chuva e a caneta, que desliza no papel.

vai chover, vai secar, serão águas passadas
diga adeus, !adeus!


E tudo com o tempo passa, virando lembrança querida, dor esquecida, ferida curada. Vai doer, vai passar, vou lembrar, vou chorar, mas levanto a cabeça e continuo a jornada. Que o próximo passo, tenho certeza, tudo vai melhorar!

Há espaço pra todos há um imenso vazio
Nesse espelho quebrado por alguém que partiu
A noite cai de alturas impossíveis
E quebra o silêncio e parte o coração


E termino com palavras que me acompanham em manhãs ensolaradas, enquanto vejo a vista da cidade inteira, uns que ainda dormem, outros que já trabalham. Vou descendo todo sábado, cantarolando as canções, aplicando a engenharia do hawaii, sendo toda coração. Preciso sentir mais o que penso e pensar mais a emoção.



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Muito para sonhar


Menina. Tenho que crescer. É o que andam me cobrando, que seja adulta, mesmo sem querer.

Usam como exemplo a própria juventude curta, me colocando na parede para que abandone tantas aventuras. 
Tenho sonhos de menina!

Muitos sonhos a perseguir, outros tantos a serem sonhados, que ainda não descobri. 
Tenho sonhos encantados, cada vez mais reais.

Aguentem firme! Preciso de mais tempo de menina, mais tempo para sonhar.

Dizem eles, com vozes velhas, que é tempo de sossegar.

Só sossega coração morto, que o punhal fez parar.

O meu bate forte e leve, tem muito o que sonhar.





terça-feira, 14 de agosto de 2012

Te espero nos trilhos

Vou esperar o tempo que tiver

Sozinha entre os trilhos pensava comigo
O que acontece se o trem vier?
Sentei nas tábuas sorrindo
Tenho o tempo que tiver


Passei os dedos no metal gelado
Trilhos cor de café
Quase chorei olhando pro lado
Vai voltar, tenho fé


Me equilibrava em um trilho
Você no outro
As mãos dadas, te digo
Imagino seu gosto


Um dia ali trilhamos
Alguma aventura
Agora os afastamos
Com olhares de ternura


Eram retas paralelas
Que no infinito se encontravam
Amigos por tabelas
Que um dia se amaram


Colei o rosto no metal enferrujado
Lágrimas rolaram quentes
De saudades do passado
Que embaçava minhas lentes


Sorri um sorriso torto
Lembrando do que fomos
Sabia que estava morto
Mas vive nos meus sonhos


Trilhamos um curto romance
Uma crônica ou conto
Nos trilhos o último lance
Antes do temido ponto


Prefiro lembrar de tudo
Em um poema de trilhos
Lembrar do dia confuso
Em que matou meus risos


Mas lembro principalmente
Dos conselhos valiosos
Sei que neles não mente
Com olhos lacrimosos


Continuo sentada entre os trilhos
Continuo sonhando contigo
Pensando em pontos e brilhos
Te esperando voltar, amigo



domingo, 12 de agosto de 2012

Râler





On ne peut pas nier que 
(On ce qui nous concerne)
Envers les infers du monde
Ça ne vaut pas la peine de râler
Notre vie, si privilegiée, ne mérite rien que de bonnes volontés

J'ai beau essayer de ne voir rien que le côté positifs
Parfois la tristesse se fait présente dans le miroir
Cependant, la vie continue, belle, rapide, facile.
Facile pour qui? Pour moi? Pour toi?
Pour nous? vous? eux?

É amigo, não vale a pena reclamar, bater o pé, complicar
Não vale a pena insistir, pensar que pode obrigar
Certas coisas na vida, ou se espera ou se aceita
Pau que nasce torto, não se endireita

Exigências feitas a cada segundo
Acordam o que de pior há no mundo
Não queira mudar o que anda tão bem
Forçando se perde o que já tinha também

A vida quase nunca parece fácil a quem vive
Pensam muitos consigo "pior a que tive"
Se vivemos já é privilégio sagrado
Agradeço mais um dia abençoado

Talvez não seja o que tinha planejado
Penso até mesmo que algo deu errado
Mas comparado a tantos infernos em terra
Não reclamo de nada, estou longe da guerra