quinta-feira, 28 de junho de 2012

Janelas Quadradas

Das janelas quadradas do décimo andar, vejo a cidade e o verde banhados de luz. Na sala, no quadro, nas carteiras quebradas, há também poesia, tudo seduz. No centro do palco, atrás da mesa, alguém tenta ditar entendimento. Isso se ensina? se aprende? se entende? Escuto, anoto, quase nunca pergunto.

Pensamentos fogem e escorrem entre as janelas e o prédio, correm pelo centro ávidos de conhecimento, muito além das quatro paredes dessa tão fechada sala. Os olhos brilham quando encontram na janela do prédio vizinho a imagem refletida das nuvens no céu.

Liberdade é o desejo do dia e da vida, pelo qual loucuras serão cometidas, em nome das mais diversas delícias...

As janelas quadradas... não quero nem deixo que me enquadrem, prendendo meus olhos em um quadro tão limitado! Quero viver segundo aquilo em que acredito, quero tentar ver mais do que o quadro apresentado, mesmo que incomode alguns.

O Sol invade o prédio frio, acende em mim a chama da coragem, quero e posso mudar os rumos da minha tão singela existência. Não sou só protagonista, mas roteirista, junto a tantos outros que ao passar deixam algumas linhas, parágrafos, capítulos, ou mesmo, quando queridos, esperam comigo todas as próximas aventuras...até o longínquo dia em que as cortinas da minha vida vão fechar.

Mas na sala não há cortina para esconder as janelas quadradas que insistem em me enquadrar... Até que ponto conseguem enquadrar a louca? Até que ponto me obrigam a ser normal? Normas sociais por vezes servem de amarras à minha imaginação. Hoje queria cortá-las. Hoje vou respirar aliviada, quando mais tarde, no conforto de casa, as notas me libertarem a alma, invadindo janelas alheias. 

Não preciso pular para ser livre, basta que o olhar não pare na janela, basta que possa caminhar livre e sorridente, sem medo de sentir.


terça-feira, 26 de junho de 2012

Tentação


Uma cachoeira de mel se estende diante dos meus olhos
Escorrem os fios sem dó dos meus pensamentos
A mão se levanta e se estica em sua direção
Cuidado bobinha, não são seus
Recolho a mão atrevida
Raios de Sol iluminam as vistas
Tentação de passar os dedos
Devem ser como cetim
Mordo o lábio com desejo
E ainda me sorri
Depois ainda se perguntam
Porque foi que enlouqueci

domingo, 24 de junho de 2012

Tic-tac

Um dia depois do outro, as horas se seguem frias. Sem piedade, o tic-tac do relógio me lembra a cada segundo que nada mudou desde o segundo anterior. Cai a noite, na casa cheia cada um está sozinho. As horas congelam e não me deixam fugir, não me deixam dormir, não me deixam chorar. Penso e repenso no passado e no agora. O nó na garganta não se desata. Quero pedir que as coisas melhorem, não sei como pedir. Pergunto sem resposta, qual pedido é o da melhora?

Dói, mãos apertam aflitas o coração de volta ao peito, a injustiça o faz acelerar desesperado. Soluços partem desatinados, uma ou outra lágrima quente encontra seu caminho pelas bochechas vermelhas. Quero colocar pra fora e não consigo, quero dormir e a dor não deixa. Cansaço me alcança e o corpo reclama, mas o sono não vem.

Pensamentos de dias felizes me invadem, dias tão bons não podem ter tão triste fim. Releitura de um ano antes, o choro se esconde de medo. Chorei pela partida de quem não partiu. Chorei por quem ficou sem ficar. Chorei pela volta sem realmente voltar. Chorei pela breve melhora que não conseguiu durar. E agora não choro nem durmo.

Quando os olhos se fecham não há descanso, se abrem novamente ansiosos pela e com medo da mudança, mas ela não vem. Um dia depois do outro, as horas se seguem frias. Sem piedade, o tic-tac do relógio me lembra a cada segundo que nada mudou desde o segundo anterior...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mandamus de cor meum

para o sofre-dor a deixar de sofrer ou com ela aprender


Procura-(a)dor
Cura-(a)dor
Cuida-(da)dor
Mas não deixe de sonhar
Em um mundo sem dor
Um mundo de amar


Onde defensores de todos
Processam a dor
Sem esquecer que essa caminha
E por isso ainda rima
Com a palavra amor


Não há sem dor amor
Sem procurar encontrar
Sem antes sofrer curar
Sem cuidar manter

Até o cuidador se cansa
De quem não tem cuidado
Até a menina se afasta
De quem por ela foi amado

Se não houve mão dupla
Lhes digo en passant:
Procura a dor
Cuida da dor
E ao final do dia
Cura a dor
Encontre ao seu tempo
Um novo amor

Sou na vida defensora
Do direito apaixonado
Em declarar amar
Não existe nada errado
Coração partido
É sentença (ir)recorrível

E assistentes não faltam
Nesse mandado tão certo
Te asseguro nem que tenha
De baixar novo decreto

Sou 'pró-cura' do coração
Construir novo destino
E na alheia decisão
Ver somente o riso


Cuidado devia ter tido
E agora vejo que tudo
Não foi tempo perdido
Coração não só curado
Mas também fortalecido

terça-feira, 19 de junho de 2012

Olhar

E onde está a minha alma?
Dentro dos olhos de quem quer ver.

"Quem não quer, Alice?" responde o Helcio, tão gentil.

E respondo sem perceber ou me esforçar:

" Nem todo mundo quer ver o que tem dentro da gente, nem todo mundo quer mostrar o que tem dentro de si... às vezes, não basta escancarar a porta e chamar o outro para nos conhecer, às vezes, o outro também tem que querer entrar... e às vezes, o olhar se desvia dos nossos olhos, e escuto meu coração chorar. É difícil, eu sei, não é todo mundo que consegue se entregar. Quem já sofreu não costuma ter facilidade em confiar de novo, não costuma declarar amar...
É tudo medo, mas eu digo, não tenhas medo de me olhar."

"Alice, a beleza, a tristeza, a correnteza que corre na e da gente afasta e atrai. E ai de quem não se olha e não se vê a si mesmo. Às vezes, o convite é feito, mas há quem o evite. A entrega pode acontecer, mas do outro lado alguém se nega a tecer o mesmo fio. Então, dá um frio imenso na alma da gente.
É tudo medo, mas eu digo... não tenho medo de olhar." Helcio Maia, em singelas quatro linhas, me ensinando a viver.


E sem medo olho fundo nos olhos de quem não foge... de quem não tem medo de ver
aquele reflexo humano no fundo das retinas únicas de quem desarmado se deixa olhar...


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Teen Spirit


O escuro estava muito claro
O tarde era cedo
O cedo era tarde
A rua vazia aos meus olhos
Ainda devia ter movimento
Para quem não a desejasse ver
Deserta para se encher

Já deitava a cabeça
No travesseiro fresco
Antes que se esqueça
Fechei os olhos sem sossego

Pulsava o sangue nas veias
Quente e desatinado
Com pensamentos em teias
O cheiro invadiu o quarto

Cheirava a Teen Spirit
Cheirava a liberdade
De uma menina sem medo
Dos instintos de verdade


domingo, 17 de junho de 2012

Tão somente Alice

Reflexões de uma aula de penal

Meias verdades que se unem sem nunca deixarem de ser verdades pela metade.
Não há verdade inteira, não há certeza...(só beleza).

A fé que é boa em querer que dê certo apenas o de boa-fé.
A fé sem santo, sem anjo, sem inocência, de pedir, com os olhos apertados, que a má-fé continue encoberta.

A neutralidade se afasta de mim. Escolho caminhos bifurcados, confusos, amados.
Acredito nas minhas decisões, sem certezas, sem perguntas, sem respostas.

Que a punição não seja tardia, porém prescrita!

A razão não tem me explicado a realidade injusta, maluca, por vezes trágica ou absurda.
A emoção me guia pela mão macia, rumo a sonhos e desejos escondidos.

Para que tudo permaneça igual, começo a mudar tudo e quase nada.
Na inércia de aventura em que não levei mala.
Sem bagagem, peso ou dor...carrego comigo apenas amor, distribuído e nem sempre aceito.
Sabem, é bem triste gostar sozinho...

Em toda essa concretude humana derretida,
Sou quem sou e sempre quis ser:
Tão somente Alice.


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Teima de borda


Água quente em jatos relaxantes
Olhos fixos na porta
Esperava a teimosa se decidir
Derramei a água pelas bordas quando entrei na banheira
Derramei rios de mim quando peguei na caneta
Mas agora ela teimosa não queria me ajudar
E por isso esperava no spa
A linda caneta entrar
Seduzindo sentimentos, que tímidos não queriam sair
Enclausurados pela teimosia da caneta
Azul, preta ou vermelha
Nem em sangue
Nem em lágrimas
Nada deixava
Como a água
As bordas do meu coração

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma noite sem barco

Para a nossa Princesinha

Cada segundo muda tudo
Um ato diferente gera outro futuro
O destino construímos a cada passo
Nesse nó que vejo sem laço

A fita escorreu entre os meus dedos
O mais puro cetim de medos
Terror mais profundo concretizado
A vida escorreu em uma noite sem barco

Frágil e pura se foi sem asas
Deixando saudades inconformadas
De quem na vida foi anjo de amor
Perdoe, meu bem, a nossa dor

Bondade única no sorriso sem fim
Gravado para sempre em mim
Nós te amamos princesa
Amamos além da tristeza

E o amor nunca se esquece ou acaba

terça-feira, 12 de junho de 2012

Rios e Pontes


RIOS

Alice Rios

Sou dos RIOS desde o início, dividindo opiniões.
Enquanto corto meus caminhos, diferentes direções.
Correm rios para o mar, corro eu querendo amar.
Correnteza de incertezas, vai nas margens se abrigar?
Pule nos rios, meu amigo, sem medo de afogar.
Venha e entre sem pudor, no meu rio água é amor.
Desce a serra em cicatriz, nas marcas do olhar,
Parte pedras, ensopa o jeans, rio corre sem parar.
Doce riacho de águas claras, mornas para nadar,
Faz a curva e encontra a queda, cachoeira de matar.
E a correnteza ganha força, veloz se faz ouvir.
Rios quentes sedutores, não demora a moça a vir.
De um lado fica a razão, sem ter como atravessar.
Na outra margem emoção, melhor lugar pra morar.
Correm rios divididos, eclata a moça em riso,
Vendo o rio sem juízo, levar a vida ao mar.



PONTES

Alice Pontes

Sou das pontes por natureza.
Conectar variadas ilhas de opiniões diferentes é de berço.
Porém, diferente da maioria das pontes todas,
Muitos que me antecederam,
Mantiveram para si, uma postura de balanço.
Que estabelecia ligações maleáveis entre:
Teoria e outra,
Crença e outra.
Essa era, para bem dizer, sua posição em tudo.
Mas o balanço nem se pode dizer exatamente um posicionamento.
Afinal, ele é, antes de tudo, o contrário de estático.
Característica básica da opinião formada e daquele que é tudo...
Menos vulnerável ou volúvel.
Ou seja, o balanço da ponte
Mantêm em si, sua única habilidade:
Balançar-se sem pender...
Entre os dois lados do muro,
Ou nesse caso, da mesma pobre e pequena ponte.
Talvez isso seja a minha natureza também...
Eu prezo, como uma ponte rebelde,
O movimento em prol do equilíbrio e da sustentação.
Em função de causas adversas
Como um vento desconexo que sopra...
Para melhor me adapar sem me quebrar.
Nem sempre uma ponte ser firme representa
A melhor característica do mundo
Que se encontra em um ser legitimamente dessa natureza.
Rigidez demais, também pode conduzir alguém a se quebrar.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Rio de Janeiro


Fui pro Rio
Desce a primeira
Desce a segunda
Fui pra Lapa
Desce a terceira
Desce a quarta
Toca um samba
Que nele se acaba
A menina levanta
Vira madrugada
Desceram muitas
Desceram várias

Em Copacabana
O descanso aguarda
Nada como a cama
Pela manhã que nasce
Em um Rio tão bonito
Que os olhos cansados
Ficam abertos
Esperando a chegada
De uma esperança
Ensolarada

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Anjos




Anjos e arcanjos sempre tão presentes
Sopram em meus ouvidos santos
Segredos e mensagens quentes
Escutem e levem pedidos ó anjos!


Abraços dos mensageiros de Deus
Carinho pelos anjos sem asas
Beijos nesses anjos meus
Coração que pula em brasas


Peço ao meu anjo da guarda
Cuide dos anjos cá de baixo
Arcanjos que estão na marcha
Anjo por Alice amado


sábado, 2 de junho de 2012

Alice na Igreja (A ver Maria)



De e com Gabriel

Com que graça grafa a pena!
Que graça a de escrever poema!
De graça!
Plena!

Que engraçado o veio!
Até me veio a letra
Da Ave Maria em latim!
Tanta graça assim!