quarta-feira, 28 de março de 2012

A Lagarta I

"Who are you?" Said the Caterpillar.

Sentada no cogumelo e soprando seu narguilé, a Lagarta assim começa sua pequena e confusa conversa com Alice. "Who am I?", não sei. Suponho que possa responder que sou a Alice, estudante de Direito, amante da leitura, da música e de tardes de samba tocando clarineta, alguém mais família, meio nerd, muito feliz. Talvez essa seja a melhor resposta, sou alguém feliz. Feliz porque tenho todos os motivos para o ser.


domingo, 25 de março de 2012

Brilha o orvalho

Debruçada na janela da sala, olhava para baixo a menina do sétimo andar.

As folhas balançavam minimamente, ao sabor do vento, e o Sol fazia o orvalho brilhar.
Pareciam pequenas estrelas, ou seria purpurina?
Entre o verde claro das folhas, as pequenas gotas encontravam abrigo.
Choveu tanto e o céu estivera tão cinza, agora era tudo calmaria e luzinhas na copa das árvores.
A menina aguardava ansiosa as cores do pôr do sol.
A esperança é como o orvalho, que brilha depois da tempestade.


sexta-feira, 23 de março de 2012

A mesa de vidro

Eu já estive mais alta que a mesa, a chave estava ao meu alcance, mas a deixei lá. Depois disso diminui, por pura imprudência desavisada. Como quando vi a chave antes, ela não muito me interessava, não havia porque colocá-la no bolso. A chave ficou no tampo da mesa de vidro.

Eu agora, tão distante daquela chave que já fora minha, sabia que queria a chave dourada. Olhava pra cima e podia vê-la através do vidro quase cristal. Saber o que se quer, é o primeiro passo, dizem eles (muitos deles).

Alice tenta, então, escalar os pés da mesa, tenta em vão. Os pés de vidro transparente escorregam mais do que sabão. De repente tão pequena, tão menina, tão sozinha. Sei o que quero, sei onde está, e agora? A imprudência, de beber tudo o que podia do pote que foi oferecido, me havia colocado em difícil situação. Mania de garota, tomar toda a bebida gostosa, esquecer da chave e teimosa insistir em escalar a mesa. Mal de nome, imagino, essa tão rebelde teimosia.

A vida, por vezes me parece apenas uma mesa de vidro.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Descendo pela Toca

Fazia sol na tarde vazia do bairro, como o sol de dias ingleses no campo.
A internet era sem graça apesar das imagens e diálogos, talvez devesse ter procurado um livro interessante.
Nenhum coelho passou atrasado, mas algo após a Brasil iria passar, e não podia me atrasar mais.
Desci rua abaixo (nunca se sabe quando o elevador da vetusta cairá de novo para cima) e alegremente esperei o ônibus, para percorrer a BR como quem cai na toca de um coelho, uma queda longa e devagar.
Curiosa fui ver o "país das maravilhas", sem medo de rainhas enfurecidas, sabendo que em breve acordaria.
Sonhos frequentes, espero.


domingo, 18 de março de 2012

O alarme

Vibra o alarme. Pálpebras se abrem pesadas. As próprias mãos des-cobrem o corpo. Lençóis ao chão.

Ponho-me de pé. Cabelos no rosto. Abro a porta com desgosto, querendo para a cama voltar.

Começa um novo dia que de tão igual é completamente diferente dos outros.

Uma nova Alice, que aqui gosta de falar, reage. Mochila nas costas, nescau no leite.

Que Belo Horizonte se prepare, não deixarei pedra sobre pedra nessa cidade.

Somente a mudança interna pode mudar o mundo, que ele mude como me mudo, sem nunca emudecer.

sábado, 17 de março de 2012

Palavras e Imagens






Algumas pessoas precisam de palavras, outras de imagens.








Meus desenhos parecem palitinhos, os da Débora quase falam com sons, e já falam à alma.







Uma imagem vale mais que mil palavras? depende da imagem, depende das palavras...






E um gesto? um verbo ou mais.







Deixo algumas imagens...













Desenhos da Débora. Fotos minhas, da Bretanha que em um outono conheci.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A Chuva

Eu quero sair em 5 minutos. Vai cair um temporal. Quero sentir toda a chuva me molhar aos poucos. Quero ver se a água gelada nesse verão tão quente é capaz de me esfriar. Quero ver se isso que queima em mim pode diminuir. Só de pensar sinto as bochechas esquentarem, sei que estão vermelhas.

Quero sair e ficar na chuva, no meio da rua, no meio da quadra. Quero que todo o cinza do céu caia, e que o meu vermelho passe. Quero saber se isso é forte o bastante para resistir à corrente d'água que corre ao lado do meio fio.

Quero sentir cada gota colar minhas roupas em mim. Quero sentir os pingos escorrerem da raiz às pontas do meu cabelo e dele ao chão. Quero escutar o barulho seco das lágrimas do céu tocarem a terra. Quero rir e ver as pessoas olharem horrorizadas. Quero chutar as poças da calçada.

Quero que a chuva me adote, me acolha, me engula. Quero ser com a chuva só uma. Que o azul acinzentado me lave a alma.


segunda-feira, 12 de março de 2012

Maluca Assumida

Me disseram que sou louca
Era louca ou era doida?
Não importa mais
Sou maluca assumida
Vá cuidar da sua vida
E me deixe logo em paz

Quem foi que disse que era errado?
Joguei a moral no ralo
Fui me divertir
Nem tudo era só boato
Perdi a meia e o sapato
Só me importa é sorrir

A noite veio tão ligeira
Quase me dando rasteira
É preciso ter cuidado
Nem todos se libertaram
Há os que se magoaram
Coração que é vingado

sábado, 10 de março de 2012

O sussurro

Um sussurro

Um suspiro

Um sorriso

Suor escorrido

Cabelos molhados

E tudo se esvazia

Em um só piscar de olhos

Imaginação que não é eterna


O calor e a brisa

A janela escancarada

O sonho que vem e que passa

O carnaval que não fica mais

A promessa do dia

A pressa da noite

O olhar perspicaz


E de verso em verso me lembro

Da lembrança quase sonho

Do real e do imaginário

Do que foi feito

Do que ainda o será


E a vontade que cresce

A estrofe que diminui

A aventura que acaba

Acaba de começar


E de sonhos me alimento

Alimento essa vontade

Do quase proibido


O sussurro

O suspiro


O sorriso


quarta-feira, 7 de março de 2012

A queda

Caí

Num buraco fundo

Escuro, tranquilo

Silêncio ensurdecedor

Caí devagar

Quase parando

E nem tive medo

Do fim da queda

Ia caindo

Mais e mais longe

Na escuridão

Caí e nem sei de onde

Caí lá de cima

Caí para baixo

Vim caindo

Sozinha

Sorrindo

Afundando

No escuro sem luz

Cada vez menos claridade

E via sem ver

O escuro passando

Ficando pra trás

E eu caía

Caindo pro fundo

Pro centro do mundo



terça-feira, 6 de março de 2012

Assassinos

Quando a lua subiu

E o prédio a tampou
Parece que ninguém viu
A lágrima que escoou

O coração apertado
Sentiu-se rasgar
Ainda dilacerado
Precisando amar

O terror dos apaixonados
O vulgar, banalizado
Acabem com os assassinos
Mata o amor quem nunca foi amado

segunda-feira, 5 de março de 2012

Sabia ?

Sabia que saber pode ser sabido por sábios atrevidos, que pensam saber mais sobre o que sei? Se sabia, repeti, se não sabia, já falei.

De onde veio a mania de afirmar entender o que nunca fora explicado? Não precisa ter entendido, só escute calado.

Quem afinal precisa de rosas brancas ou vermelhas? Deixe a rosa ser rosa! Pirei!

"Se tivesse crescido, ele teria feito uma criança extremamente feia, mas vai ser um porco bonito, eu acho."
- Alice no País das Maravilhas, e a loucura lógica da criança que vira porco.


sábado, 3 de março de 2012

Escala simples, no calor

Dó, si lá mi agrada
O Sol queima fá-minto
A pele que ré-cobre a alma
Nesse lugar infinito

sexta-feira, 2 de março de 2012

Perdida, em um navio sem nome

"Gatinho Inglês, que caminho devo seguir? Perguntou Alice. Depende de onde você quer chegar, respondeu o gato."- Lewis Carroll - Alice no País das maravilhas.

Como a Alice do livro, me sinto um pouco perdida, em um mundo maravilhoso que eu sonhei e que agora parece um labirinto. Não consigo escolher um caminho, não sei onde quero chegar. Facilitaria muito se tivesse uma placa indicando o lado da Felicidade ! Eu quero ser feliz !

E o sonho, afinal, é meu.