domingo, 29 de julho de 2012

Sem enganos



Ninguém me entende. É isso. 

Me enganei algumas vezes 
(quando dizia que me entendia) 
Pensava que era verdade
Pensava e até sentia
E doeu tanto descobrir
Que sem saber mentia
Descobrir sendo enganada
Uma verdade omitida


Pior a realidade
A mentira deslavada
Doeu mais que a verdade
Não chorei nenhuma lágrima
Não choro por quem não merece
Não perco o sono por quem magoa
Não gasto sequer uma prece
Mas se volta, a boba perdoa


Vou tentar não me enganar
Pensando que me entende
Vou tentar me controlar
Lembrar que às vezes mente
Vou tentar esquecer tudo isso
Tentar daqui pra frente
Quem sabe ainda desisto
Quem sabe só estou carente


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre tentar e entender




Tudo corria bem
Em perfeita harmonia
Até que do nada ela vem
Acabar com a calmaria

Fiquei tentando entender
Afinal que culpa eu tinha
Fiz tudo o que podia fazer
Fiz até o que não queria

A vida me lê a lição
Não quero estudar, lhe suplico
Deixa amar meu coração
Insiste que zerei, eu repito

Não choro e não insisto
O jeito é continuar
Como se nada tivesse visto
Como se ainda pudesse sonhar

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Fogueira Cigana

Só se dá valor ao que se perde.
Só se dá valor ao que se perde?

Só se dá valor ao ver que perder dói
Mas precisa perder exatamente
Aquilo a que valor será atribuído?
E se perdi só semelhante?

Se dá valor ao comparar
Fica mais caro o amor
Quando se vê rasgar
Quando o outro ignora a dor?

Só se dá valor ao que valor tem?
Se dá valor ao que não vale um vintém
Se dá valor a quem veio?
Dá valor a quem vem?

Se dei valor eu não nego
Se dei valor esperneio
Se dei valor eu te peço
Ignore meu devaneio

Deu menos valor ao que se foi
Deu mais valor ao que ficou
Se limitou a dizer oi
Não sorri a quem desprezou

E têm só 18 anos
Nessa viagem de escola
Jovens se dizem ciganos
Ela não quer sua esmola

Fiquei olhando de longe
Pela luz da fogueira
Calma como um monge
Que escuta tanta asneira

Eram pouco mais novos que eu
E me pediam conselhos
Ela disse que o amor doeu
Eu me fazia de espelho

Ele quis logo saber
Se comigo tinha sido assim
Se ainda se pode viver
Se era mesmo tão ruim

Os dois se gostavam tanto
Mas ela ainda lhe dizia não
Ele pedindo em pranto
Ela negando perdão

Jovens...
Jovens como somos
Sofrem...
Sofrem como tantos
Que o amor já machucou

Só se dá valor ao que se perde?
Ele a perdeu, eles se perderam
Mas eu dei valor a outro alguém
Aprendi com eles, aprendam...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Noite na Fazenda


Reunidos na cozinha, fugimos do frio ficando na mesa ao lado do fogão a lenha. Violão, sanfona e um batuque esperto, um som que varou a noite e anunciou a manhã. A fazenda regada pela chuva que tardou sem falhar, lavando o sereno que cobria a sacada. Arrasto passos macios pelas tábuas do corredor, chego na varanda graças à luz trêmula da minha lanterna de plástico. Empurrei a porta azul e entrei no quarto escuro e silencioso. A noite negra e de som vazio, maravilhoso, que só se encontra depois de estradas de lama, esburacadas.

A música da roda de amigos ainda soava lembranças e saudades no meu coração. Palavras cantadas pela voz de menino contavam de dias em que era preciso ser homem crescido... "vive ainda dez anos"... pensei comigo, fitando um estrela perdida. Cante ainda dez noites naquela cozinha, cante que me encanto com a sua voz. E o menino canta letras de tal beleza que mesmo o céu estrelado veio ouvir, trazendo companheiras para a minha estrelinha perdida.

Sopra a sanfona respondendo as cordas que vibram. Sopra sono em meus ouvidos. Vibram palavras de memórias distantes, apagadas. Batucam desejos proibidos sob a pele. Palpita o coração aflito. E na voz viajo sem vontade de voltar. Fazia frio na fazenda adormecida, e o cheiro de terra molhada entrava pelas frestas da porta. Acordava de uma noite de sonhos para mais um dia de Julho no interior de Minas Gerais.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Mamãe

Conselhos de ouro escorrem tímidos
Simplicidade que se vê na elegância
Aprendo com passos ligeiros
Aprendo com o "não" da infância

Sigo pegadas de longe
Confiro se tomei o mesmo rumo
Piso com força, marco destino
Caminho por perto
Caminhos distintos

Ela vai sorrindo e cantando
Dizendo que é leãozinho
Olha  de leve chamando
Estende a mão com carinho

Trilha mamãe sua vida
Cria mamãe nossa luz
Ri gargalhadas gostosas
Pega na mão e conduz

Vejo mamãe levantando
Vejo mamãe se deitar
Vejo uma força absurda
Vejo mamãe nos criar

Olho nos olhos castanhos
Alegria só de lembrar
Hoje celebramos anos
Que mamãe nos fez sonhar

Dorme menina levada
Dorme que já é tarde
Durmo mamãe leãozinho
Com nosso amor de verdade

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Dia de faxina


Acordei hoje com muitos planos para o dia. Pulei da cama, tomei café, escovei os dentes e li um pouco de Cecília. Abri as janelas, puxei as cortinas, escolhi uma roupa fresquinha. Olhei as horas, respondi mensagens e, finalmente, comecei a faxina. Primeiro o armário, depois as camas e tentei arrumar a escrivaninha. Tirei o pó e limpei os vidros, vou receber visita. Aproveito o impulso, subo na cadeira e tiro do armário minha mala verdinha. Em poucos dias pego a estrada para fazendas de Minas.

Separo um casaco, toco uma música, escuto a brisa que grita. Enfio o sapato, leio um poema, vejo na foto velha a menina. Cabelos ao vento, cachorrinho no colo, era feliz e sabia. Falta espaço, sobram bagunças, feliz de quem se organiza... Jogo fora papéis e balinhas. Sento na cama exausta, caderno apoiado nos joelhos magros, a caneta me fascina. Abro uma página qualquer e jogo no papel a faxina da minha vida.



terça-feira, 10 de julho de 2012

Arte

A Vida imita a Arte
A Arte imita a Vida

uma visita ao Inhotim


Me encanta profundamente a capacidade humana de reproduzir com detalhes a perfeição da realidade, da vida. Me encanta ainda mais ver na obra parte do artista. Ver em cada pincelada, moldura de escultura, dobra do papel e segundo do vídeo, ver em tudo isso, pulsar sentimento, seja a dor ou o amor ... O ser traduzido em ver, escutar, tocar e provar. O ser traduzido em ler.

Meus olhos se enchem de admiração infantil ao ver as cores se alternarem dentro do caleidoscópio, girando em amarelos, vermelhos e azuis. As lágrimas surgem discretas ao perceber que primeiro vi e senti o abandono de um animal, para só depois passar à imagem de baixo, onde um alguém humano se misturava ao chão e ao lixo. Pensei muito no gatinho da Cecília. Que retratos lindos de uma feia parte da vida. Fotos de uma Salvador desconhecida.

A Arte que me beijou suavemente a face, afagou meus cabelos, soprou quente minha nuca e cobriu meus lábios de calor... Essa mesma Arte me fere a pele branca e macia com um tapa de realidade. Tenta me acordar de uma alienação sonífero.

Louco é quem não enlouquece com tanto absurdo no mundo, tanta beleza, tanta tristeza e tanto amor. Louco é quem consegue cruzar os braços ignorando a arte que bate na porta com tanto vigor, que acredito que em pouco tempo irá derrubá-la. Louca sou eu de colocar meu coração nesse redemoinho de cores e formas sem nenhuma proteção. Loucos são vocês todos ! E graças aos céus ! 

A vida imita a arte, a arte imita a vida, que a minha seja bem colorida, de palavras e de amor.



domingo, 8 de julho de 2012

Partida

devo ou não partir?

Começou
Todo mundo igual
O tempo rolava despreocupado
Sentada corria os olhos pela situação
Perigo
Avanço escondido aparece na linha de ataque
Suo frio
Não vi que estava tão perto
Pega a mão e me puxa
Arrepio de memórias que cortam a mente
Levanto depressa com medo 
Fugir? Ficar? Confiar em si mesmo? Confiar em alguém?
Chutou pro gol e foi longe
Lembrei de respirar
Volta a rolar tranquila pelo meio de campo
Defesa adversária me irrita com a falta de abertura
Me deixe entrar logo ! Quero marcar gol !
Desvio firme o olhar 
Penso no que deve ou não ser feito
Escuto alguém me aconselhar sem ter sido requisitado
O sangue sobe fervendo
Penso de novo na defesa e em como quero atravessá-la
Penso de novo no ataque e em como barrá-lo
Penso de novo no meio de campo e em como o amo
Penso demais
Corri com mais entusiasmo...levanta a bandeira me impedindo
E nada do gol ser marcado
Me marca incansável o outro
Respiro de novo contando até 10
Não nasci para sentar no banco
Agitada subo na cadeira berrando com força
"Pra cima deles !" e lá vou eu...
Levar faltas violentas nunca me impediu de tentar vencer
Mas talvez...e só talvez, eu deva considerar ficar atrás da linha marcada
Depois dessa bandeira subir sem indicar a largada
Depois da bandeira subir me mandando parar
Depois das faltas sofridas
Depois da partida apitada


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Azul


Alívio vívido me invade a alma em tons de azul.

Brilha o Sol no céu sem nuvens, céu de brigadeiro... (quase morro de vontade de pensar no leite condensado). Mergulho no azul da piscina mesmo não sendo verão, deixo os cabelos soltos, livres para ficarem na forma descabelada que desejarem. Deixo o Sol de antes das dez e depois das quatro secar a pele e aquecer a alma, com pingos de luz e amor. 

Azul... o caderno, a lapiseira, o livro querido.
Azul bem claro, turquesa, marinho. 
Azul da mamãe, o preferido.

Alice veste azul 
Vê azul
Beija turquesa 
E às vezes violeta 
Mas só chora azul acinzentado

Sonho tons azulados e calmos. A tinta azul que espalho na tela macia me provoca arrepios de prazer.

Meu mundo é todo azul, seja puro ou com amarelo, para formar o verde fresco dos parques e bosques. 
O azul da chuva cai trazendo alívio imediato...
O azul que vi no fundo dos olhos que um dia se fecharam para sempre.

É tudo alívio azul anil.




terça-feira, 3 de julho de 2012

Fantasmas


Fantasmas que não fazem falta
Que deixaram poucas linhas apagadas
Da nossa tão breve história sem graça
Mas que reaparecem do nada
Com perguntas e respostas sem nexo
Não temos nada em comum
Suspeito que nunca tivemos
Por que me visitas, fantasma?
O natal ainda está bem longe
E não me arrependo de sermos
Passado esquecido e distante
Pode parecer complexo
Mas a realidade é simples
O fim chegou na hora certa
Tomamos caminhos diferentes
A narração já está completa
Não passamos de retratos velhos
De dois jovens sorridentes



domingo, 1 de julho de 2012

Acorda Alice, rápido

o puxão de orelha que me dei...mas com o qual estou de acordo

Acorda Alice!
Menina dorminhoca
Levanta que já é tarde!

Sonhe Alice...
Mesmo acordada
Solte as amarras
Alice is so not in chains

Viva maravilhas
Aproveite o dia
Depois dessa noite
Tão bem dormida

Acorda Alice!
E vá lavar o rosto
Sinta querida
O seu próprio gosto

Respire garota
Aspire o cheiro com força
Coragem meu bem
Já é uma moça

Abra os olhos com vontade
Veja o brilho da vida
Esqueça a vaidade
Tire o dedo da ferida
Sei que conhece a verdade...
Minha grega preferida

Acorda Alice!
É chegada a hora
De ser aquilo que é
Viva! História...