quarta-feira, 26 de setembro de 2012

"Vai ser sempre assim?"


A aula acabou mais cedo, e saímos da sala conversando, ali no corredor em frente aos escaninhos. Fui caminhando com os meninos, determinada a descer de elevador, hoje não me arrisquei a ir pela escada. Enquanto olhava a porta entreaberta da sala em frente, onde amigos faziam algum tipo de trabalho, escutei o Luciano dizer baixinho "Vai ser sempre assim?". 

Me virei em um impulso de perguntar "assim como?" e ao mesmo tempo respondendo a minha própria pergunta com um intenso "assim", que englobava tudo e todos nesse tempo e espaço. Em pouco tempo percebi, assim como o Thiago, que também se perguntava a que se referia o Luciano, que a pergunta nada mais questionava do que a metodologia de aula, com trabalhos em grupo.

Mas isso não bastava, agora que ela havia sido perguntada, ali no aberto espaço do corredor cercado de escaninhos, e eu repetia os termos na exata ordem que os havia escutado: "vai ser sempre assim?". Aquilo se tornou de tal profundidade no momento, que cheguei a pensar na hipótese desesperadora do assim que poderia se perpetuar, o meu "assim" extremamente desorganizado, corrido, afobado, lotado, confuso, um "assim" de angústia quase existencial.

Agora já viajava em Sartre e na responsabilidade humana sobre suas ações e destinos, e assim, meu "assim" não seria sempre...assim. Bastava que mudasse o status quo e redefinisse os rumos do trem. E a aula recém acabada retomava suas linhas de quadro branco (acho que ainda sinto falta do giz, ou não? não sei): o ser humano não pode ser totalmente conhecido e definido, ele é capaz de mudar, se redefinir, mas nunca de se conhecer ou conhecer o outro em sua mais completa complexidade.

"Vai ser sempre assim?" - Se infinitas possibilidades se estendem diante do painel futuro, não seria sempre assim, mas se as possibilidades são tantas, incluiria a constância, e aí sim, talvez seja sempre assim... Seremos sempre amigos? Seremos serenos, amenos, angustiados? Seremos assim como somos no quadro hoje pintado? Serei arteira e terrível a vida inteira?

Será que vai sempre doer o que me dói hoje? Será que tudo que doeu ainda dói, e o que não dói mais na verdade nunca realmente doeu? Será que os minutos vão seguir passando nessa marcha quase insuportável da minha espera por algo mais? Será que sempre vou sentir que deveria estar fazendo alguma coisa que não sei bem o que é? Será que serei sempre essa boba que se entrega de braços abertos e coração na mão, enrolado num laço de presente? Será que vai ser sempre tão difícil dizer "eu te amo"? Será que serei sempre assim carente?

Será que viveremos sempre correndo atrás de uma borboleta impossível de alcançar? Será que a cada degrau que subirmos vamos mirar outros tantos? Em uma escadaria infinita de ambição? Ou será que vamos sempre querer outros lances de escada simplesmente por não ser o fim da jornada? Vai ser sempre assim tão difícil dizer o que sinto? Vai ser sempre assim tão difícil viver? Vai ser sempre assim a saudade?

Vai ser sempre assim tão gostoso passar minhas tardes entre pessoas queridas? Vai ser sempre assim a alegria de escutar alguém tocar? Vai ser sempre assim o doce menino de tomar sorvete no domingo? Vai ser sempre assim sorrir ao te ver gargalhar? Vai ser sempre assim a vontade de te ver? Vai ser sempre assim sonhar com você? Vai ser sempre assim acordar depois de sonhar?

Vai ser sempre assim?




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