quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Ele se foi

Cresceu muito e bem depressa, achei que estava muito bem! Mas me avisaram que como ficou tão grande... algumas mudanças precisavam ser feitas. Fiquei um pouco apreensiva, mudanças nem sempre têm o efeito esperado. O tempo passava e via sinais de que a mudança era mesmo necessária. Não tinha outro jeito, precisei arriscar.

Acompanhei e ajudei na mudança, com olhos atentos e mãos cuidadosas. Depois continuei vigiando, dia após dia cada pequena reação. Dois dias se passaram e achei mesmo que tudo ficaria bem, mas não foi bem assim. Por mais que a mudança tenha sido imposta por uma necessidade crescente, ele não se adaptou.

Cada vez que passava por ele, cada manhã que tentei animá-lo, matar a sede, mostrar a luz, cada vez via que definhava um pouquinho. Foi secando, ficando magrinho, e o verde desaparecia aos poucos, dando lugar a um amarelo quase marrom. Ver aquele fim foi se tornando parte do dia a dia, como havia sido com o começo. Mas dessa vez não foi divertido assistir o tempo passando...

Por fim, ainda que não me conformasse, minha mãe pegou a tesoura e cortou o que um dia foi meu querido pé de manjericão (esse aqui: para o meu manjericão). Sentei na bancada da cozinha como sempre fiz, encarei o vasinho vazio e me bateu uma saudade, uma tristeza, uma vontade de passado, uma nostalgia boba de criança.

Ele se foi, como tanta coisa se vai em nossas vidas. Parei por alguns segundos enquanto encarava o que restara abaixo do corte da tesoura, pensei em todos que por alguma razão se foram, pensei nos últimos anos, me bateu uma dor enorme. Senti um vazio se apertando lá no fundo, como se estivesse procurando o coração e só encontrasse um fundo oco. Não. Não podia ser assim.

Passei dias pensando na vida, preenchendo o tal vazio que acabava de descobrir, lembrei de tantos momentos bons, agradeci por ter tido oportunidade de conhecer tantas pessoas boas. Lembrei de todos eles com carinho, independente das circunstâncias em que partiram. Lembrei até mesmo de quem só partiu da Minha Vida, partindo por vezes o meu coração... Sim, também tinha sido privilégio conhecê-los. Nesse tempo, me distraí, esqueci de olhar para o vaso ao passar pela cozinha, trabalhando sozinha nas minhas memórias e conclusões.

Hoje, parei para beber água e vi um brotinho surgindo tímido no vaso antigo, me veio uma alegria imediata, um calor no peito, o coração que batia feliz. Sim, meu antigo manjericão se foi, mas outro estava nascendo. Sim, perdi algumas pessoas, mas outras tantas nasceram na minha vida, não sei o que faria sem tantas novas amizades ! Encontrei pessoas realmente especiais, sem as quais não consigo mais me imaginar.

É, mais uma vez aprendi com o meu manjericão valiosas lições. Encarei dores que havia escondido, chorei lágrimas que estavam encarceradas, lavei a alma, amanheci. Ele não será meramente substituído, essa não é a ideia, mas, às vezes, no caminho, o velho deve dar lugar ao novo. E, por vezes, que ainda não entendo, até o novo tem de partir.


7 comentários:

  1. Alice

    Tuas reflexões sempre me enchem de alegria!

    Bjs

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    1. Fico super feliz em saber =D os seus textos também sempre me alegram !!!!

      Beijos !!!

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  2. Deu tanta dó do manjericão no meio do texto!

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    1. Também morri de dó, mas não tinha mesmo outro jeito....=/

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  3. lembrei da minha tentativa de pé de feijão aos 5 anos...

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    1. Nessa minha tentativa de escola, que sempre começa no algodão e tals, o pé ficou tão grande que plantei na varanda, e esse se deu bem por lá ! foi uma mudança e sucesso ! lembro da gente colhendo feijão e servindo no almoço !!!

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  4. "você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço" - http://caio-fernando-abreu.blogspot.com.br/2007/06/para-uma-avenca-partindo-caio-f.html

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