Das janelas quadradas do décimo andar, vejo a cidade e o verde banhados de luz. Na sala, no quadro, nas carteiras quebradas, há também poesia, tudo seduz. No centro do palco, atrás da mesa, alguém tenta ditar entendimento. Isso se ensina? se aprende? se entende? Escuto, anoto, quase nunca pergunto.
Pensamentos fogem e escorrem entre as janelas e o prédio, correm pelo centro ávidos de conhecimento, muito além das quatro paredes dessa tão fechada sala. Os olhos brilham quando encontram na janela do prédio vizinho a imagem refletida das nuvens no céu.
Liberdade é o desejo do dia e da vida, pelo qual loucuras serão cometidas, em nome das mais diversas delícias...
As janelas quadradas... não quero nem deixo que me enquadrem, prendendo meus olhos em um quadro tão limitado! Quero viver segundo aquilo em que acredito, quero tentar ver mais do que o quadro apresentado, mesmo que incomode alguns.
O Sol invade o prédio frio, acende em mim a chama da coragem, quero e posso mudar os rumos da minha tão singela existência. Não sou só protagonista, mas roteirista, junto a tantos outros que ao passar deixam algumas linhas, parágrafos, capítulos, ou mesmo, quando queridos, esperam comigo todas as próximas aventuras...até o longínquo dia em que as cortinas da minha vida vão fechar.
Mas na sala não há cortina para esconder as janelas quadradas que insistem em me enquadrar... Até que ponto conseguem enquadrar a louca? Até que ponto me obrigam a ser normal? Normas sociais por vezes servem de amarras à minha imaginação. Hoje queria cortá-las. Hoje vou respirar aliviada, quando mais tarde, no conforto de casa, as notas me libertarem a alma, invadindo janelas alheias.
Não preciso pular para ser livre, basta que o olhar não pare na janela, basta que possa caminhar livre e sorridente, sem medo de sentir.